Brasileiros
só vão às urnas para escolher o próximo ocupante do Palácio do Planalto em
outubro do ano que vem, mas a movimentação de pré-candidatos está a todo vapor.
Bolsonaro e Lula polarizam o embate antecipado
Rodrigo
Glejzer
Fonte: correiobraziliense.com.br
Em: 24/05/2021
A pouco mais de um ano da corrida
presidencial de 2022, o clima de campanha eleitoral já domina o país, com
intensa movimentação de pré-candidatos e das forças políticas que vão
participar do pleito. Mesmo com muito chão pela frente, a largada foi dada
antes do apito oficial, e resta saber quem terá a energia necessária para
cruzar a linha de chegada na frente. Em nenhum outro momento, desde os primórdios
da redemocratização, a disputa rumo ao Planalto começou tão cedo.
O presidente Jair Bolsonaro e seus
principais adversários aprofundam o debate eleitoral, enquanto o cenário para
2022 fica cada vez mais definido. O chefe do Executivo enfrenta o momento mais
difícil do seu mandato, com o início das investigações da CPI da Covid do
Senado coincidindo com os piores índices de popularidade até agora.
Focado no projeto de reeleição desde que
tomou posse, o capitão reformado tem pela frente uma batalha difícil, com os
adversários explorando fortemente as falhas do governo durante a pandemia.
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Lula e Bolsonaro: os dois principais candidatos para 2022 Imagem: poder360.com.br |
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), que teve condenações anuladas e os direitos políticos
restabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), intensifica as conversas
com forças de centro, em busca de alianças eleitorais.
Os interlocutores incluem até
adversários históricos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e
o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ). Lula também tem
feito uma ação diplomática paralela, em contato com embaixadores e
lideranças mundiais, explorando as deficiências da política externa do atual
governo. Em uma situação de crescente isolamento internacional, o Brasil não
tem conseguido receber da China e da Índia os insumos necessários para a
produção de vacinas contra o novo coronavírus. A questão dos imunizantes foi a
principal pauta tratada pelo petista com os interlocutores estrangeiros.
Em outra frente, rompido com Lula, o
ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disputa com o petista possíveis alianças com forças
de centro. Também já começou a organizar a estrutura com a qual pretende
concorrer no ano que vem. Dela faz parte a consultoria do publicitário João
Santana, que foi o marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula, em 2006, e
de Dilma Rousseff (PT), em 2010 e 2014, e condenado na Operação Lava-Jato.
No PSDB, a movimentação também é
intensa. Os tucanos deram a largada no processo que vai definir o candidato
do partido na próxima eleição presidencial. Por pressões de João Doria, uma
prévia para a escolha do nome foi marcada para 17 de outubro, embora parte da
legenda defenda que isso só deva ocorrer no ano que vem. Além de Doria, estão
no páreo o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; o ex-prefeito de
Manaus (AM) Arthur Virgílio e o senador Tasso Jereissati (CE). Este último tem
tido grande projeção por ser um dos 11 titulares da CPI da Covid.
A antecipação do debate eleitoral
começou logo depois de Bolsonaro receber a faixa presidencial. Ainda no início
de 2019, ele deixou claro que concorreria a um novo mandato e trouxe para o
governo a polarização com as forças de esquerda que marcou a campanha
vitoriosa do ano anterior.
Essa movimentação levou outros
personagens a também anteciparem seus projetos eleitorais, o que provocou o
rompimento do presidente com antigos aliados, como Doria e o ex-ministro da
Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
A disputa política ficou ainda mais acirrada após o início da pandemia
da covid-19, com a escalada de ataques de Bolsonaro contra governadores e
prefeitos que seguem as recomendações científicas para conter o avanço do novo
coronavírus.
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Eduardo Leite: uma das esperanças da terceira via Imagem: jornalnh.com.br |
Pioneiro do marketing político
brasileiro, cientista político e especialista em comportamento eleitoral,
Antônio Lavareda disse que a antecipação de campanha eleitoral é sempre
negativa para os governantes, pois gera desconfianças nos eleitores. Por
outro lado, na sua visão, o fenômeno é positivo para a sociedade, que têm mais
tempo para avaliar os perfis dos concorrentes.
“A estratégica básica dos governantes é
tentar restringir ao máximo a campanha para o ano da eleição e, mais ainda,
para o segundo semestre do ano eleitoral. Quando procurados pela imprensa, se
você for pesquisar as declarações de governantes, sejam governadores, prefeitos
ou presidente, no ano anterior à eleição, você vai ver geralmente eles dizendo
que ‘Esse é o momento de trabalhar, esse é o momento de governar; eleição nós
discutiremos adiante’, ou seja, no segundo semestre do ano eleitoral”, disse
Lavareda.
O cientista político observa que, por
outro lado, Bolsonaro adotou a “estratégia equivocada” de, desde a posse
como presidente, de misturar o exercício do mandato com o projeto de reeleição.
“Bolsonaro fez isso, provavelmente, porque ele conseguiu se eleger em 2018 por
conta de uma campanha longa, que ele iniciou em 2015. Então ele quis se mirar
também um pouco no evento do (ex-presidente dos Estados Unidos Donald) Trump e
transformar o governo dele, a presidência dele, na cadeira presidencial, como
uma campanha permanente.
Ao que parece, isso tem
sido uma estratégia equivocada, com consequências negativas”, disse o cientista
político. O analista acrescenta que, “do ponto de vista psicológico, é como se
o presidente encurtasse o mandato dele, porque quando ele coloca a questão da
reeleição ele eleitoraliza todas as ações do seu mandato, trazendo desconfiança
aos eleitores, além de acabar legitimando os seus adversários”.
Quanto aos pré-candidatos
de centro, o cientista político considera que eles deveriam se expor mais na
mídia, principalmente pelo fato de terem assinado um manifesto. Ele se refere a
um documento em defesa da democracia, divulgado em abril por João Doria (PSDB),
Eduardo Leite (PSDB), Ciro Gomes (PDT), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta (DEM), o apresentador Luciano Huck e o empresário João Amoêdo (Novo).
O texto traz críticas às repetidas ameaças de Bolsonaro à estabilidade
democrática.
“A minha posição, já a
expressei publicamente, é que, por exemplo, esses pré-candidatos do chamado
centro deviam se expor à mídia. A mídia deveria convidá-los para debates entre
eles. Eles já assinaram um manifesto. Por que a mídia não os chama para um
debate, pela internet? Mas um debate mesmo. Não há nenhum impedimento legal
para isso”, sugeriu Antônio Lavareda.
Para o cientista político
André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, Bolsonaro “está pagando o
preço pela opção que fez de não descer do palanque” após vencer as eleições de
2018. “Quem antecipou toda essa discussão eleitoral foi o Bolsonaro, lá atrás,
ainda em 2019, muito antes da pandemia. Nessa época os atores políticos ainda
estavam estudando o terreno, tentando entender o novo governo.
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Bolsonaro precisará se reinventar em 2022 Imagem: estadao.com.br |
E quando o presidente fez
isso, os adversários foram levados a se colocar, porque política não comporta
vácuo”, disse. De acordo com o especialista, com Lula, Doria e outros possíveis
candidatos em 2022, Bolsonaro vai encontrar um time bem mais forte do que
enfrentou em 2018. “Não só é um
grupo mais pesado, como é também um time que, hoje, entende mais o jogo.
Primeiro, todo mundo agora conhece Bolsonaro”.
“O presidente não é mais
novidade, e se mostrou fraco na gestão, ele é um péssimo gestor público,
um péssimo homem de relacionamento com quem importa nas elites políticas e
econômicas. Além disso, quem perdeu a eleição de 2018, como Ciro Gomes, não vai
repetir os erros e deve fazer uma campanha muito diferente”, disse o cientista
político.
“Quem antecipou toda essa
discussão eleitoral foi o Bolsonaro, lá atrás, ainda em 2019, muito antes da
pandemia. Nessa época os atores políticos ainda estavam estudando o
terreno, tentando entender o novo governo”, finalizou Pereira César sobre o
auxílio emergencial.