terça-feira, 6 de abril de 2021

Como a volta de Lula afeta as negociações por uma candidatura unificada do centro

 

Com 4 ou 5 possíveis candidatos, será preciso decidir qual a melhor opção para a próxima eleição


Rodrigo Glejzer

Fonte: gazetadopovo.com.br

Em: 16.03.21 


Em articulação desde o ano passado, uma possível candidatura unificada de centro começou a ser rediscutida com a possibilidade de o ex-presidente Lula (PT) entrar na disputa pela Presidência. Nos últimos dias houve acenos de possíveis presidenciáveis de que eles podem até mesmo renunciar à candidatura para apoiar um nome mais viável. Mas outros pré-candidatos caminharam no sentido oposto.

As conversas vinham sendo mantidas por lideranças do PDT, PSB, Rede, PV, PSDB, DEM e Cidadania para evitar a possível polarização entre PT e o presidente Jair Bolsonaro, que agora tende a se acentuar.

Até então, nomes como os de Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Sergio Moro (sem partido) e Luciano Huck (sem partido) vinham sendo cotados como opção para essa terceira via unificada. A aposta dos defensores da unificação era de que, com um candidato único, fosse possível vencer o candidato do PT no primeiro turno, que até então era Fernando Haddad, para ir para o segundo turno contra Bolsonaro.

Mas a ideia de unificação nunca havia avançado de forma mais concreta. E nem mesmo todos os partidos que defendiam a proposta conversavam entre si. Até mesmo porque as pesquisas indicavam que, mesmo sem unificação, um nome do centro poderia ir para o segundo turno.

Em 5 de março, três dias antes de Lula recuperar os direitos políticos por decisão do ministro do STF Edson Fachin, levantamento do Instituto Paraná Pesquisas mostrou que Bolsonaro liderava as intenções de voto com 31,9%. Os demais vinham embolados na sequência: Sergio Moro (11,5%); Fernando Haddad (10,5%); Ciro Gomes (10%); Luciano Huck (8%); João Doria (5,3%); Guilherme Boulos (3,2%) e por último João Amoêdo (2,8%).

Ex-presidente Lula deve ser um dos principais adversários do centro
Imagem: youtube.com

                                            

Mas a entrada de Lula enfraquece a competitividade dos candidatos de centro e muda o cenário político. Segundo esse o levantamento da Paraná Pesquisas, Bolsonaro manteve a vantagem com 32,2%, mas Lula aparecia isolado na segunda posição com 18% das intenções de voto. Os dois eram seguidos por Sergio Moro (11,6%); Ciro Gomes (8,7%); João Doria (5,3%); Guilherme Boulos (3,5%); João Amoêdo (3%) e por último Henrique Mandetta (1,4%). Luciano Huck não entrou neste cenário.

Dois dias depois da decisão de Fachin, outro levantamento, encomendado pela CNN Brasil ao Instituto Real Time Big voltou a mostrar que o ex-presidente Lula se mantinha isolado na segunda posição com 21% (Bolsonaro liderava com 31%). Atrás de ambos, houve um empate técnico no terceiro lugar entre quatro candidatos: Sergio Moro (10%), Ciro Gomes (9%), Luciano Huck (7%) e João Doria (4%).

Temendo a polarização entre Bolsonaro e Lula, articuladores da frente de centro já se movimentam para tentar antecipar a definição de um nome do grupo.

Mesmo assim, por enquanto há inclusive incerteza se a articulação vai dar resultado para a escolha de um único nome ou se o centro terá uma série de candidaturas pulverizadas. Por enquanto, a unificação é improvável. A chance maior é de haver pelo menos duas candidaturas nesse segmento: uma de centro-direita e outra de centro-esquerda.

Doria admite que pode desistir, mas aliados apostam que ele será viável do centro

No fim de semana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), admitiu que pode abrir mão de sua candidatura a presidente para disputar a reeleição ao governo paulista – algo que também havia sido feito recentemente por Luiz Henrique Mandetta (DEM).

No meio político, a declaração de Doria foi vista como um reconhecimento de que, se ele não melhorar o desempenho nas pesquisas, será melhor apoiar outro nome com mais viabilidade eleitoral.

Mas interlocutores de Doria ainda não descartam sua candidatura ao Planalto. Eles afirmam que o governador paulista seria hoje o único nome com discurso pronto para ganhar o voto dos "40% nem-nem" – proporção de votos válidos que os tucanos estimam que não votariam nem em Lula, nem em Bolsonaro.

“O Doria é hoje o nome que rivaliza com o Bolsonaro e sempre esteve longe do petismo. Além de ter a imagem de pessoa que conseguiu uma vacina contra a Covid-19 para o Brasil”, argumenta um aliado de João Doria.

Como vice, o PSDB sonha com Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde. “A questão da pandemia vai dominar o discurso de 2022. Doria tem a cartada da vacina enquanto Mandetta tem a popularidade e o reconhecimento da sociedade como ministro que quis conduzir a pandemia de forma diferente no Brasil”, explica outro integrante do PSDB.

Porém, Doria precisa vencer a disputa interna dentro do próprio PSDB pela sua candidatura. O partido marcou para outubro a definição de quem será o candidato tucano. A prévia interna deve ser entre o governador de São Paulo e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

João Dória ainda não sabe se continuará com a ideia de ser presidente em 2022
Imagem: poder360.com.br
                                                                              

Luciano Huck ainda não sabe se será candidato

Já lideranças de outros partidos como Cidadania, PV e PSB querem o apresentador de TV Luciano Huck como opção de terceira via. Huck, contudo, ainda vive o dilema de escolher entre largar a carreira artística para embarcar na carreira política.

Logo após da decisão que favoreceu Lula, Huck chegou a alfinetar o petista ao afirmar que “figurinha repetida não completa álbum”. Dias depois, em artigo publicado no jornal britânico Financial Times, o apresentador de TV citou a forma como o ex-presidente causou uma reação negativa no mercado financeiro.

Além disso, o possível presidenciável voltou a criticar a gestão de Bolsonaro na crise sanitária e na proteção do meio ambiente e o episódio de interferência do presidente brasileiro na Petrobrás. Internamente, os aliados afirmam que Huck quis expor para o mercado global a polarização causada por Bolsonaro e Lula.

Huck terá que escolher entre a carreira artística ou política
Imagem: investificar.com.br

Moro está enfraquecido até mesmo para quem o apoia

Nome dos sonhos do Podemos para disputar a Presidência em 2022, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro vive hoje seu momento de menor prestígio político devido os desgastes da operação Lava Jato. Além do episódio de nulidade dos processos de Lula determinada por Fachin, Moro corre o risco de ser considerado suspeito no julgamento do ex-presidente petista pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O caso foi retomado pela Segunda Turma do STF na semana passada e, até o momento, o placar está empatado em dois a dois. O voto decisivo será do ministro Kassio Nunes Marques, indicado ao tribunal pelo presidente Jair Bolsonaro e que já admitiu nos bastidores que pode votar contra Moro. Neste momento o julgamento está interrompido por um pedido de vista feito por Marques e não há previsão de ser retomado.

Moro sempre negou a intenção de disputar a Presidência. Mas, ainda assim, tinha defensores dessa ideia no meio político. Agora, contudo, até mesmo essas lideranças veem que ele está enfraquecido para ser candidato.

“Ele poderá influenciar na disputa ao se posicionar como apoiador de determinado candidato para 2022. Quem ele apoiar deverá receber o voto dos 'lavajatistas'. Com todo esse imbróglio no STF, ficou inviável o nome de Moro”, admite um integrante do Podemos.

De herói a vilão, Moro vê sua candidatura em risco
Imagem: folhavitoria.com.br


PDT de Ciro Gomes "esnoba" outros partidos de centro

Pré-candidato desde que ficou em terceiro lugar na disputa de 2018, Ciro Gomes (PDT) tem afirmado que não pretende renunciar a sua candidatura. Pelo contrário, segundo interlocutores, o pedetista tem admitido que a chegada de Lula o favorece na construção de suas alianças.

Até o momento, no campo da esquerda o pedetista conseguiu apenas a sinalização de apoio da ex-senadora e ex-candidata à presidência Mariana Silva, do partido Rede Sustentabilidade. Outras siglas como PSol e PCdoB, por exemplo, seguem mais alinhadas com o PT.

Ciro chegou a cogitar uma aliança com os partidos de centro-direita. No entanto, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirma que os demais nomes foram eliminados. “Essa volta do Lula abre um espaço para o Ciro. O ódio vai se nutrir na campanha entre Lula e Bolsonaro e, por isso, elimina de cara a candidatura de Luciano Huck e Sergio Moro”, afirma Lupi.

O líder pedetista ainda afirma que Ciro Gomes deverá crescer no campo da centro-esquerda. “O Ciro vai crescer e vamos fazer uma aliança de centro-esquerda. Acredito que assim ele pode furar essa polarização”, completou.

O PDT de Ciro Gomes não parece disposto a fazer alianças no Centro
Imagem: noticiasaominuto.com.br


Lula x Bolsonaro: centro tem chance de emplacar uma terceira via

Parlamentares e especialistas têm dúvidas sobre a capacidade do centro de conseguir chegar a um nome de consenso


Rodrigo Glejzer

Fonte: exame.com

Em: 10.03.21


A possibilidade de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja candidato à presidência da República em 2022 foi comemorada por parte da esquerda, criticada pela direita, mas, pelo menos para uma parcela do centro, trouxe a esperança de emplacar uma candidatura “moderada”. Parlamentares acreditam que a polarização abre margem para uma terceira via se consolidar, mas não têm certeza se essa oportunidade será aproveitada.

“Acho que cria espaço para centro. Se o setor mais moderado tiver sabedoria, pode encontrar alguém que ocupe esse lugar”, acredita o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), primeiro vice-presidente da Câmara. A entrada de Lula na arena acirra os ânimos e evidencia a polarização política, mas não resume o jogo, acredita. “O Brasil inteiro não cabe em Lula ou Jair Bolsonaro. A maioria está no meio”, pondera.

O problema, na visão de Ramos, é que o centro não tem programa consolidado nem um nome definido. “Se conseguir chegar a um consenso, acho que tem ambiente para crescer. Desde que se parta da premissa de que é preciso ter um programa de centro, um programa moderado para o país, Mas ninguém hoje tem isso”, observa o deputado do PL.

                                       
Bolsonaro e Lula devem ser os principais adversários do centro
Imagem: professorrafaelporcari.com

A percepção dele é compartilhada por especialistas. Para o analista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, mesmo que se abra uma oportunidade, o centro precisaria resolver muitos problemas antes de conseguir viabilizar uma candidatura. Com quadros divididos e ainda sem um nome forte, o cenário atual não aponta para o lançamento de um candidato capaz de concorrer com Lula ou Bolsonaro.

“O ingresso de Lula no xadrez, em um primeiro momento, abafa o centro, por uma razão simples: o centro está muito desorganizado, muito fragmentado e não possui atores que estejam minimamente à altura onde Bolsonaro e Lula estão em termos de competitividade eleitoral”, diz Vidal. Para ele, é clara a desorganização na busca pela almejada terceira via. "Mas ainda tem muito tempo pela frente e tudo pode mudar", pondera.

Para o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), um dos problemas é justamente a pulverização. Se houver um número grande de candidatos concorrendo ao posto de “candidato do centro”, fica mais difícil emplacar um nome. “É evidente que tem um campo de eleitores que não quer nem Bolsonaro, nem Lula. Quem conseguir representar essa parcela da população pode agregar. Isso pode acontecer, mas depende muito de diminuir o número de candidatos”, acredita.

Líder do DEM na Câmara, o deputado Efraim Filho (PB) acredita que a entrada de Lula no cenário, ao mesmo tempo que fortalece o quadro de polarização, provoca as forças mais ao centro a se unirem para viabilizar uma candidatura competitiva. "Acho que essa situação gera um impulso que, por enquanto, não havia acontecido ainda", diz. A esperança é que haja um consenso em torno de uma opção de centro, não uma série de candidaturas. 

Doria, Huck e Ciro são alguns dos principais nomes para a terceira via
Imagem: portaltucumã.com.br
                                                                            

Mesmo com as dificuldades, Efraim considera que “foi melhor ter acontecido agora do que daqui um ano”, sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin de anular as condenações contra Lula feitas pela 13º Vara Federal de Curitiba. Com isso, segundo o deputado, “dá tempo para se organizar e trabalhar com a sociedade a ideia de criar uma alternativa moderada, equilibrada e com ideias diferentes”.“Há nomes que podem se organizar, mas é preciso competência para isso”, avalia Efraim. O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, lembra que essa busca não é fácil e não é de agora. “Para dar certo, o centro teria que acelerar um processo que já era de difícil entendimento”, aponta. A movimentação atual, segundo ele, não é nesse sentido. “Sinceramente, não vejo uma terceira via ganhando força. Precisaria achar um projeto, um discurso”, aponta.

Em um espaço onde surgem possibilidades de Luciano Huck a Sergio Moro, César acredita que, se os partidos de centro tiverem alguma chance, será pelas vias mais tradicionais: PSDB ou PSD, por exemplo. Com a volta de Lula, os tucanos já aceleraram a discussão e marcaram para 17 de outubro as prévias para definir o candidato à presidência em 2022. Dois pleiteantes são os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Segundo um parlamentar do PSDB, o ideal é definir o nome o quanto antes, para começar a campanha antecipadamente. “É urgente entrar agora no jogo, já com um programa, para que as pessoas saibam que há uma opção no meio”, afirma. No atual cenário, com o inimigo número de Bolsonaro de volta, Doria perde força, acredita Vidal. O posto de principal antagonista está ocupado.



Joaquim Barbosa e Danilo Gentili são citados como opções de terceira via em 2022

Humorista pode ser candidato pelo Partido Novo Rodrigo Glejzer Fonte: gazetadopovo.com.br Em: 08/06/2021   Gentili foi sondado pelo Partid...